Andrade MAC, Barros SMM, Maciel NP, Sodré F, Lima RCD. Institutional support: democratic strategy in the everyday practices of the Brazilian Health System (SUS).Interface (Botucatu). 2014; 18 Supl 1:833-44.
" (...) O
SUS é uma conquista popular em permanente processo de construção e
aperfeiçoamento, inspirada
num projeto de Estado de Bem-Estar Social. Essa característica o
configura como um sistema baseado
no direito universal à saúde, contra-hegemônico, avesso a uma
visão mercantil, excludente, centrada
na recuperação do dano e afinado com o ideário neoliberal de
esvaziamento dos compromissos sociais
do Estado.
Cumprir
os preceitos constitucionais que garantem o direito à saúde de
todos os brasileiros traz para
a prática cotidiana, o desafio de alterar o modo como os
trabalhadores de saúde se relacionam com
o seu principal objeto de trabalho: a vida e o sofrimento dos
indivíduos e da coletividade, produzindo
uma cultura institucional mais pública e solidária e induzindo
linhas de subjetivação diferentes
das que predominam no setor saúde
. Tais desafios traduzem a necessidade de uma nova gestão
que dê conta, por um lado, de organizar e administrar serviços de
saúde numa perspectiva de
rede coordenada de serviços de saúde, e, por outro lado, de
organizar as relações entre sujeitos (profissionais
de saúde e usuários), mediados por tecnologias (materiais e não
materiais) com o propósito
de intervir em problemas (danos e riscos) e necessidades sociais de
saúde historicamente definidas.
Nesse
contexto, destaca-se que dentre a valorização das intervenções
técnicas e tecnológicas, é
importante considerar que as tecnologias envolvidas na produção do
cuidado e da gestão – o acolhimento,
a escuta, a negociação, a interpretação de histórias e a
aprendizagem com a experiência do
outro – dizem respeito tanto à instituição quanto à equipe de
saúde. Todavia,
a complexidade envolvida na operacionalização do SUS exige inovação
gerencial a fim de superar
a “tradição gerencial que tem como eixo a redução de pessoas à
condição de instrumentos dóceis
sujeitos aos objetivos das instituições de saúde, transformando-os
em insumos ou em objetos”.
Dessa
forma, para que o exercício de novas formas de gerir e organizar
instituições se efetive – com
o objetivo de superar as práticas tradicionais de administração –
é necessário realizar uma transformação
no cotidiano do fazer/pensar saúde, o que demanda a apropriação da
trajetória de constituição
do SUS no nosso país e a crença na potencialidade da mudança. Além
disso, uma vez que
objeto, método, objetivo e estratégias na saúde variam de acordo
com a concepção que se tem do
sujeito e de como conceitualizamos o que é saúde e doença, a
inovação gerencial também nosconvoca
ao desafio de repensar a prática clínica hegemônica para superar o
modelo curativo centrado no
hospital e no componente orgânico do processo saúde-doença (...)".
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